domingo, 11 de abril de 2010

Poema

Ama como a estrada começa

Mário Cesariny


1 comentário:

  1. Encantador poema, este de Mário Cesariny, deixo aqui o registo do poema

    Estrela da tarde

    Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
    Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
    Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
    Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

    Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
    E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
    Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
    Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

    Meu amor, meu amor
    Minha estrela da tarde
    Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
    Meu amor, meu amor
    Eu não tenho a certeza
    Se tu és a alegria ou se és a tristeza
    Meu amor, meu amor
    Eu não tenho a certeza

    Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
    Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
    Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
    E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

    Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
    Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
    Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
    E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

    Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
    É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
    Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
    Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

    Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

    José Carlos Ary dos Santos

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