quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Consolo na Praia

A propósito de um comentário a "Creep", este poema, cujos versos apetece acariciar, de Carlos Drummond de Andrade, um poeta do tamanho do Brasil, ou será do universo?, extraído da obra "Um Eu Todo Retorcido".


Consolo na Praia

Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te -de vez- nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Que Ficou Por Dizer


1
Passam oito minutos das cinco horas da manhã.
Desce da cama o meu corpo sem sono. Movimenta-se na penumbra como se não existisse. Abandona o quarto. Entra na sala onde o sol entrara antes do meu cérebro em chamas. Sem perder tempo, senta-se e obedece, sem resistir, à voz que o atormentou durante toda a noite.
Já passaram quase dois meses desde a apresentação do romance, o primeiro que publico, o segundo que escrevo, na Feira do Livro de Barcelos. Regresso ao dia dezassete de Junho. O criminoso regressa quase sempre ao local do crime. O filho regressa sempre ao ventre materno.
A alameda das Barrocas, situada no peito de Barcelos, estava cada vez mais perto. A meu lado, uma voz ansiosa, ou receosa, procurava acalmar-me ou acalmar-se.Caminhávamos, cúmplices de um mesmo desafio, ou sonho, ou loucura, em direcção ao desconhecido, o nosso. A noite noitava este cantinho do Mundo. Havia muitas pessoas na rua a digerirem o jantar e a vidinha. Ocupei-me a ouvir o som dos meus passos. Entretinha-me, em vão, a silenciá-los. Estava um pouco atrasado. Já passava das vinte e duas horas.
Entrámos no recinto da Feira do Livro. Algumas pessoas saltitavam de pavilhão em pavilhão, de livro em livro, em silêncio ou sussurrando para a companhia. Se não fosse a música debitada por colunas estrategicamente espalhadas pelo recinto, haveria um silêncio quase perfeito. Seria tão diferente a feira semanal que começava a preparar-se a poucos metros dali!
Aproximei-me da tenda que conhecera na noite anterior. Reconheci e cumprimentei alguns rostos que me aguardavam e que esperavam que eu os surpreendesse. Eu mesmo esperava isso de mim. Tal como as catástrofes, aconteceu tudo muito rapidamente. Encontrava-me sentado num sofá confortável, lado a lado, com alguém de quem gostara em pouco tempo. Há pessoas assim: nasceram para gostarmos delas ao primeiro olhar. Pela segunda vez, nesse princípio de noite, sentia-me ladeado por alguém, que, neste caso, era pronome definido. Pela segunda vez, sentia-me aconchegado.
Há muita claridade à minha volta. Ou será dentro de mim? Não consigo continuar. Fá-lo-ei numa próxima antemanhã.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Creep - Radiohead

Creep - Radiohead




Radiohead - Creep
(Album Pablo Honey 1993)

When you were here before,
couldn't look you in the eye
You're just like an angel,
your skin makes me cry

You float like a feather
In a beautiful world
I wish I was special
You're so very special

But I'm a creep,
I'm a weirdo
What the hell am I doin here?
I don't belong here

I don't care if it hurts,
I wanna have control
I want a perfect body
I want a perfect soul

I want you to notice
when I'm not around
You're so very special
I wish I was special

But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doin here?
I don't belong here, ohhhh, ohhhh

She's running out the door...
She's running out
she runs, runs, runs, runs...
runs...

Whatever makes you happy
Whatever you want
You're so very special
I wish I was special

But I'm a creep,
I'm a weirdo
What the hell am I doin here?
I don't belong here

I don't belong here...

sábado, 1 de agosto de 2009

Chá de jasmim
Chá de amor
Rosa chá
Jaz na chávena
Leve, pálido, cálido
Cidreira do teu jardim.
Enche-me o beijo.
- Pode ser de alecrim?

Preto, branco
Vermelho, verde
Da cor da pele
Erva de príncipe
Povo sem voz, embalado
No teu sorriso, delicado
Maltado, exótico
Acorda do sonho entornado.

Aroma do Mundo
(Camelia Sinensis)
Sabor do ventre do tempo
Senta-te a meu lado
Oferece-me o teu perfume
Salsa, salva, malva
Açafrão, limão, cidreira
Avó: cura-me a alma!