terça-feira, 27 de abril de 2010

O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chuparam displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói
o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando
seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos
inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de
secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha
alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito
humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
 
Poesia de Mário de Andrade

sábado, 17 de abril de 2010

Convite

Exmo (a) Senhor (a),
Venho por este meio convidar Vossa Exa. para a apresentação do Romance do Escritor e Professor Carlos Teixo, Até à Próxima Lua, mon Amour.

Local:
Missão Portuguesa
Vilbeler Str. 36
60313 Frankfurt

Hora:
17:00 h
- Apresentação do livro Até à Próxima Lua , Mon Amour
- Debate / Troca de Ideias
- Musica ( Cantamigo)
-Lanche-convívio

Em anexo segue uma breve apresentação do Autor, bem como uma sinopse do livro.
Agradeço desde já a presença de todos.
Sejam felizes e tragam felicidade convosco!

Carla Moita

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Para sempre

Por que Deus permite que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo
baixava uma lei:
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

 Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 6 de abril de 2010

Instantes de Um Peregrino Sem Fé

22. Para Sul ( Continuação)



    A voz do condutor avisou-me
    (chegamos).
    A rapariga desapertou o cinto, movimentou os lábios carnudos e perguntou-me

    (conheces os Muse).
    Sorri-lhe e respondi-lhe.
    Deixaram-me perto da entrada do recinto de um festival de Verão. Ela foi comprar os bilhetes e ele ficou a fumar encostado ao carro. Afastei-me alguns metros. Sentei-me à sombra de um jipe. Decidi, em pouco tempo, ficar por ali. Comprei o bilhete e entrei.
    Acampei no recinto do festival, apesar de não ter tenda. Deitava-me numa tenda que estivesse desocupada. Deixava-me dormir. Quando chegavam os inquilinos, normalmente deixavam-me ficar. E eu ficava a dormir com desconhecidos.
    No último dia de festival, assisti ao concerto de uma banda inglesa. Era a banda cujas músicas ouvira, várias vezes, durante a viagem. A banda chamava-se Muse.
    No final do concerto, deitei-me na primeira tenda desocupada que encontrei. Sentia-me exausto. Adormeci facilmente. Acordei com os primeiros raios de sol. A meu lado encontrava-se deitada uma rapariga, com a cabeça pousada no meu peito, a olhar-me com uns brilhantes olhos azuis. Movimentou os seus lábios carnudos e perguntou-me
   (gostaste dos Muse).
   Sorri-lhe e respondi-lhe.
   (Onde está o rapaz que me deu boleia),
   Perguntei-lhe.
   Sorriu-me e respondeu-me.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ipsis Verbis

«Os factos só são verdadeiros depois de serem inventados.» (Crença de Tizangara)


«Os novos-ricos se passeavam em território de rapina, não tinham pátria. Sem amor pelos vivos, sem respeito pelos mortos. Eu sentia saudade dos outros que eles já tinham sido. Porque, afinal, eram ricos sem riqueza nenhuma… se iludiam tendo uns carros, uns brilhos de gasto fácil. Falavam mal dos estrangeiros, durante o dia. De noite, se ajoelhavam a seus pés, trocando favores por migalhas. Queriam mandar, sem governar. Queriam enriquecer, sem trabalhar.»


«Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz.»


«Conhece a diferença entre o sábio branco e o sábio preto? A sabedoria do branco mede-se pela pressa com que responde. Entre nós o mais sábio é aquele que mais demora a responder. Alguns são tão sábios que nunca respondem.»


«Do que mais lembro jamais eu falo. Só me dá saudade o que nunca recordo. Do que vale ter memória se o que mais vivi é o que nunca se passou?»


         Mia Couto, O Último Voo do Flamingo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A propósito de 'Até à Próxima Lua, Mon Amour'

"É surpreendente o fôlego com que escreves, admiro a tua coragem em partilhá-lo e publicar este feliz nubente.
A visita ao interior de um homem em reconstrução é desconcertante por a travessia ser constituída por sombras com intermitências de luz. É q.b. intenso mas depressivo, denso e fosforescente, o insustentável peso dos gestos, os equívocos da linguagem não verbal; o caminho torna-se hesitante, gagueja entre flutuar e encaracolar. A vida, o sorriso, as inúmeras tentativas de chegar ao Outro, chegando-se a si-próprio, ou talvez não.
Obrigada por estares ..."


Abraço da planície,


Cristina


P.S.: Espero não ter sido "dura".