domingo, 31 de julho de 2011

Ipsis Verbis

« Mas as pessoas, quando se vêem muitas vezes, supõem que se conhecem.»

«Olhar-se é o seu vício, talvez o único. Fingindo observar a montra, observa-se a si própria: os cabelos castanhos, os olhos azuis, a forma redonda do rosto. Sabe-se bela, sempre se soube e é essa a sua única felicidade.»

              Milan Kundera, A Ignorância

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Eu sei que estarei enquanto estiver na tua memória
quando morrer a noite e o sono atrasar
quando nascer o dia e a água da chuva esfriar a vontade

Eu sei atrasar-me
(não como quem não quer chegar...
como quem quer ficar)

Eu sei gostar como as crianças
amar como o girassol

Eu sei tão pouco
estar
chegar
gostar
amar

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Bar aberto



O bar estava aberto. Entrei sem hesitar. Sentei-me. Pedi uma bebida só porque estava num bar e não encontrei mais nenhuma porta aberta. Na cidade, repousavam,àquela hora da noite, cerca de 70 mil pessoas. Mas só uma porta estava aberta para que eu entrasse e bebesse uma bebida fria encostado a um balcão tão frio como eu.  

terça-feira, 19 de abril de 2011

Kings of Leon, Pyro

Apague a luz. Deixe apenas o computador ligado. Isole-se sozinha(o) ou acompanhada(o). Escute a música. Vá traduzindo a letra. Veja o vídeo. A sua imaginação fará o resto. Repita desde o início. Não tenha pejo em gastar a imaginação.

domingo, 13 de março de 2011

A Lua e o Teixo

Esta é a luz do espírito, fria e planetária. As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se
                                                                 eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.


A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente
                                                                       perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo
                                                                            aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem soar os seus nomes solenemente.


O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O rosto da efígie, suavizado pelas velas,
é, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.


Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão todos azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.

Sylvia Plath, Pela Água
(Tradução de Maria de Lourdes Guimarães)


sexta-feira, 11 de março de 2011

Escola E.B. 2 e 3 de Montelongo

Na próxima terça-feira, dia quinze, estarei em Fafe, na Escola E.B.2 e 3 de Montelongo, para 'conversar' e aprender com alunos e professores.

domingo, 6 de março de 2011

Poema Inacabado

A música que se segue é dedicada ao Francisco Carmelo, o poeta, que deixou o lugar desocupado, a folha virgem, o poema inacabado, o meu coração tingido.

Publico o último poema que me dedicou. E eu não percebi que era o último...

Carlos Teixo

Lê as luas
Afasta horas escuras
O que venceres ao medo é o teu segredo
Prende as palavras às ramagens, os soajos para os coelhos
Irmana-te às árvores imagens
Alma que faz falta à literatura
Tresandar de beleza, ao perfume das letras
Consertar chaves, sonhos rios e outros afluentes
Tu e a literatura és uma colmeia
Uma casa cheia de símbolos
Espírito esguio e felino que penetra em tudo
Incorruptível, não queiras ser acusado de um crime
De não escrever, quando és íntimo de o fazer
Rebola-te aí e desvanece-te em arte
Até o horror à perfeição no mais incomensurável humanismo
Prosseguir a luz

Francisco Carmelo, 4/1/11