segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Instantes de Um Peregrino Sem Fé

16. Miradouro da Graça



Nunca gostei de cidades despovoadas, como se fossem gigantescos cemitérios com mausoléus multiformes e multicolores. As ruas de Lisboa encontravam-se praticamente desertas de lisboetas. E os turistas eram mais silenciosos e menos apreçados. A pressa torna-nos incivilizados.
Subi as ruas íngremes e estreitas até ao Miradouro. Não me cruzei com carros, com buzinas, com impropérios dos condutores para outros condutores, com pessoas a desviarem-se furtivamente de outros sem-tempo-a-perder.
[O tempo gasta-se. Não se ganha.]
Havia muitos turistas no Miradouro da Graça. Falava-se inglês e português de várias regiões. As esplanadas estavam a empanturradas de pessoas a conversar, a beber, a ouvir, a ler, a olhar, a observar, a ser observada, a pensar, a tentar fazer tudo isso. Eu fui uma das últimas. Eu fui também uma das que ficou melancólica com o lento definhar da capital, um retrato das cidades antigas deste país sentado a ver ruir o passado, enquanto o fino, perdão, a imperial, não aquece. Lisboa envelhece sem dignidade.
Do miradouro da Graça, avistei uma cidade de costas voltadas para o passado e às apalpadelas ao futuro.




 

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