quarta-feira, 3 de março de 2010

Instantes de um Peregrino sem Fé

 


19. Para Sul

Porto Covo.
Entrei numa lojinha atulhada de tudo-e-mais-alguma-coisa. Comprei uma camisola em dois minutos. Sentei-me num banco e despi a camisola que trazia vestida, indiferente aos veraneantes que, aos magotes, romariavam para a praia. Estendi a camisola que acabara de comprar e vestia-a. Procurei um caixote do lixo. Encontrei-o em pouco tempo. Há tantos caixotes do lixo nas nossas vilas e cidades. E ainda há lixo no chão!
Pendurei numa pequena árvore vizinha do caixote do lixo a camisola que despira. Tinha de livrar-me dela, como quem se livra de um velho num depósito de velhos, pois estava suja e já não cabia na mochila. A minha consciência ficaria mais leve com a ilusão de que alguém a levasse para casa, a lavasse e a voltasse a vestir.
Encaixei a mochila nas costas e fui saindo de Porto Covo da mesma forma que, no dia anterior, fora entrando: a pé. Andei. Andei. Fui indo. Os carros passavam por mim, olhavam para mim, mas não abrandavam. Apesar de serem dez da manhã, já estava muito calor (detesto a expressão ‘fazer calor’). O mar prendera a brisa.
Deparei-me com um cruzamento. Li os nomes das localidades escritas na placa que apontava para Sul. Parei durante alguns minutos, com a mochila pousada no chão, encostada às minhas pernas. Fechei os olhos. Os carros passavam pelo meu corpo suado, deixando para trás um rasto de incómodo. Abri os olhos com uma decisão tomada. Apressei-me a comunicá-la a mim mesmo e em primeira-mão
    (vou para Sul).

Continua...

1 comentário:

  1. A criança adiantou-se e eu concordo.
    O revivalismo saudável deste blogue é compensado, sem qualquer contradição, com bandas muito actuais e, neste caso, com cenários e coreografias actualíssimas.
    Consegues agarrar todas as pontas...
    Beijo

    mb

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