segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Instantes de um Peregrino Sem Fé

3.Linha da Beira Alta

Há rios que são como algumas pessoas: não deveríamos conhecer-lhes o passado. O Mondego é um desses rios. Da carruagem onde eu era o único ocupante, o meu olhar procurou-lhe o leito . A pouca água que levava encontrava-se estagnada, escura, defunta.

[Leito sem água. Homem sem alma.]
Era tão diferente do Mondego da minha infância, quando acampava, todos os anos, em Figueira da Foz! O parque de campismo ficava na margem sul. Atravessávamos o rio todas as manhãs em direcção ao mercado municipal. Havia semáforos na única ponte que existia. Como eu gostava que o sinal estivesse vermelho, que houvesse fila! Precisava de tempo para admirar aquela imensidão de água cheia de vida, de barquinhos coloridos, de vidas...
Ao aproximar-se da cidade da Guarda, a linha afastou-se definitivamente do rio que não era o da minha memória. Ninguém gosta de aviltar as suas memórias.
[Quem faz os rios e as pessoas são os afluentes.]

Sem comentários:

Enviar um comentário