A propósito de um comentário a "Creep", este poema, cujos versos apetece acariciar, de Carlos Drummond de Andrade, um poeta do tamanho do Brasil, ou será do universo?, extraído da obra "Um Eu Todo Retorcido".
Consolo na Praia
Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te -de vez- nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Agradeço e não posso deixar de retribuir!
ResponderEliminarAUSÊNCIA (ainda Drummond)
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.
É UM LINDO POEMA, ESTE! MAS, HOJE, DIA 22 DE AGOSTO, AO RELÊ-LO, ESTREMECI. DE MÁGOA. DE ASSOMBRO. DE DENTES A RANGER COM VONTADE INDÓMITA DE MORDER O ACASO INJUSTO, ESTE ACIDENTE CRUEL DA QUEDA DE UMA ARRIBA NO NOSSO ALGARVE, ONDE, UM ROCHAS CAÍRAM EXCESSIVAMENTE ABAIXO DOS CÉUS, ALUINDO VIDAS. E LEVANDO-AS PARA AS CATACUMBAS DO NUNCA MAIS. CINCO VIDAS! CINCO VIDAS TÃO PRÓXIMAS! CINCO VIDAS QUE REPOUSAVAM NA PRAIA, EM BUSCA DO MERECIDO DESCANSO, TÃO TEMPORÁRIO, RECEBERAM A PRENSA DAS ROCHAS SOBRE O PEITO, AO INVÉS DA MEIGUICE DO SOL, DA CARÍCIA DA BRISA, DA SUAVIDADE DAS MÃOS QUE ESPALHAM OS CREMES ... E AGORA FALA-SE, DO CIMO DE SABEDORIAS FROUXAS, VÃS, MAS INFLADAS DE UMA RETÓRICA OCA E ORGULHOSA, FALA-SE QUE FORAM INCAUTOS ESTES CORPOS QUE JAZEM NA AREIA PARA SEMPRE! É TÃO FÁCIL ACUSAR QUEM NÃO PODE JÁ DEFENDER-SE! É TÃO FÁCIL AMPLIAR UMA PLACA DISCRETA, PEQUENA, QUASE INVISÍVEL, QUE OS OLHOS NÃO VÊEM (NÃO PODEM VER!)PORQUE O BELO É UM CONVITE A QUE OS MERGULHEM NA BELEZA DO MANTO DE MAR QUE ACARICIA A AREIA DE OURO E CONVIDA. A CONVIDA A VIVER. A FRUIR. A NÃO AFLIGIR ... "Mas a vida não se perdeu", DIZ O POETA! POIS DIZ, E BEM! A VIDA CONTINUA. NÃO PÁRA, CORRE À VELOCIDADE DOS PONTEIROS DO RELÓGIO. TODAVIA, HOUVE CINCO VIDAS QUE REPOUSAVAM, CONVIVIAM, VIVIAM! E OS PONTEIROS PARTIREM-SE PARA SEMPRE, DEIXANDO O RELÓGIO QUEBRADO, PRECOCEMENTE ESTILHAÇADO POR UMA CIDENTE TRISTE, ASSUSTADOR, REVOLTANTE. E REVOLTANTES SÃO TALVEZ MAIS AS VOZES SERÔDIAS, QUE AGORA VÊM FALAR DAS PLAQUINHAS DISCRETAS E NAS QUAIS O OLHAR EMBRIAGADO DE SOL E DE MAR NÃO SE DETÉM. CLARO QUE NÃO SE DETÉM! QUEM SE DETERIA NO MEDO, SE TUDODO O HORIZONTE ERA A PROMESSA, A GARANTIA DE DIAS FELIZES? E AGORA? ONDE? ONDE SE DETÊM ESSES CINCO OLHARES?
ResponderEliminar"A injustiça não se resolve", DISSE O POETA! OS POETAS, OS QUE O SÃO, TÊM ESTA CAPACIDADE DE, NUM PEQUENO TEXTO, ESCREVEREM SOBRE O TUDO E SOBRE O NADA ... ERA UM "CONSOLO NA PRAIA", ERA!
FOI UM DESCONSOLO, ESTA QUEDA! FOI UM DESALENTO GRANDE. FOI UMA INJUSTA PARTIDA, QUE DESMORONOU TANTAS VIDAS! AS DE QUEM PARTIU E A DOS QUE SE DEIXAM ALUIR COM A DOR DA PERDA ...
O MEU PESAR INTEIRO!
E, PARA TI, GRANDALHÃO,
AQUELE ABRAÇO DE SEMPRE DA AMIGA, HOJE PESAROSA, TRISTE E A MORDER A INJUSTIÇA DOS INJUSTOS ACASOS,
ELISABETE GONÇALVES
- Que mistura de grelos, diria minha tia.
ResponderEliminarQue forma agressiva de cortar o profundo "barato" desse poeta que com TUDO se comoveu.
Descomprima gente!
João Cassi e Cátia Lafões
Quando uma imagem vale mais do que as palavras...
ResponderEliminar(Refiro-me à foto que o Carlos pôs, de si, no blogue)
O horizonte não é limite, para alguns.
Maria Barbeitos