domingo, 13 de março de 2011

A Lua e o Teixo

Esta é a luz do espírito, fria e planetária. As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se
                                                                 eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.


A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente
                                                                       perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo
                                                                            aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem soar os seus nomes solenemente.


O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O rosto da efígie, suavizado pelas velas,
é, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.


Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão todos azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.

Sylvia Plath, Pela Água
(Tradução de Maria de Lourdes Guimarães)


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