quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Instantes de Um Peregrino Sem Fé

23. Bom apetite

Após ter perguntado a várias pessoas e de ter vasculhado quatro ruas estreitas do Centro Histórico do Bairro Medieval da cidade, encontrei, finalmente, o restaurante vegetariano. Passavam catorze minutos do meio-dia. Abri a porta de vidro e senti o impacto do ar condicionado no meu corpo suado.
Uma empregada aproximou-se de mim com um sorriso e um comprimento.
(Faça o favor de escolher a mesa onde pretende almoçar),
sugeriu-me amavelmente.
Cirandei com o olhar pela sala. Apenas uma mesa estava ocupada por uma mulher que me observava disfarçadamente. Escolhi uma mesa encostada à parede de vidro através da qual se avistava o movimento da rua. Sentei-me de frente para ela, que deveria ter cerca de vinte e poucos anos de idade. Tinha um olhar desamparado. Os dedos das mãos eram compridos. O pescoço alto e os ombros estreitos. Vestia uma camisa justa e decotada, deixando perceber a brancura da pele.
A empregada saiu da cozinha e trouxe-lhe um prato com uma tarde de legumes. Escutei a voz dela a agradecer
(obrigada).
[Voz de criança em corpo gasto.]
A empregada desejou-lhe
(bom apetite)
e deixou-a a olhar para o prato, dirigindo-se para a minha mesa
(hoje temos empadão de…).
Interrompi, decidido
(opto pela tarte de legumes).
Sorriu-me e dirigiu-se para a cozinha, permitindo-me observar a sala. Havia quadros de paisagens e de pessoas orientais. Tentei analisar pormenorizadamente um deles, onde aparecia um rosto de velho a fumar. Contudo, a minha atenção persistia em fugir para ela, que comia lentamente a tarte de legumes. Mal o nosso olhar se cruzou, e isso aconteceu três ou quatro vezes, era sempre eu a retirá-lo, a fugir, a cobardear. {Começa a aborrecer-me o facto de o Word sublinhar as palavras que invento}
A empregada trouxe-me o chá de erva de príncipe e a tarte de legumes.
(Bom apetite.)
(Obrigado.)
Continuará...

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