quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
A solidão segundo Picasso
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Camilo Jose Cela
Sétima: diz-se que obteve um divórcio, ao conseguir que o juíz o considerasse imaturo aos trinta anos de idade, quando casou.
A propósito do Parlamento Português...
Charlie Chaplin
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
December Song (I Dreamed Of Christmas)
written by George Michael & David Austin
Merry Christmas
Merry Christmas
May your every New Year dream come true
Sweet December song
The melody that saved me
On those less than silent nights
When snow would fall upon my bed
White sugar from Jesus
And take me to the day
She could always smile
The Virgin Child would always show, you see
Just to save me
(Just to save me)
There was always Christmas time
To wipe the year away
I guess that Mum and Dad decided
That the war would have to wait
There was always Christmas time
Jesus came to stay
I could believe in peace on Earth
And I could watch TV all day
So I dreamed of Christmas
Maybe since you've gone
I went a little crazy
God knows they can see (the child)
But the snow that falls upon my bed
That loving I needed
Falls every single day
For each and every child
The Virgin smiles for all to see
But you kept her from me
There was always Christmas time
To wipe the year away
I guess that Mum and Dad decided
That the war would have to wait
There was always Christmas time
Jesus came to stay
I could believe in peace on Earth
And I could watch TV all day
And so I dreamed of Christmas
Yes, I dreamed like you
Merry Christmas
Merry Christmas
May your every New Year dream come true
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Desci do comboio na estação de Santa Apolónia. Não tinha ninguém à minha espera. Desencontrei-me com o amigo que deveria esperar-me. Mais um desencontro. De quantos desencontros são feitas as vidas?
Telefonei-lhe. Prometeu-me que demoraria 15m a chegar. Eu previ 40m. Aproveitei o tempo para vaguear pela estação. Os dias e, sobretudo, as noites ensinaram-me a esperar. Nem sempre é fácil saber esperar. Andei de um lado para o outro, entretido a assistir ao reencontro e à despedida de pessoas. Abri a porta do cofre, com código, onde guardo os sentidos. Soltei-os pela estação, indiferente à espera. Era constante o vaivém de máquinas, de pessoas, de malas, de avisos sonoros.
(vamos, não pare que estou com pressa).
domingo, 20 de dezembro de 2009
Ipsis Verbis
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Apresentação de 'Até à Próxima Lua, Mon Amour'
21.00h CONCERTO DE JAZZ CADILLAC CLUB TRIO
21.30h APRESENTAÇÃO "Até à próxima lua, Mon Amour" Um romance de Carlos Teixo
atelier do marquês
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Para sempre
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo
baixava uma lei:
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele,velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
O sol ainda era uma criança quando comecei a descer, com passadas largas, a encosta até à ponte, que me permitiria atravessar para a margem esquerda do Tejo onde ficava a estação. Carros apressados cruzavam-se com a minha calma. A frescura da manhã refrescava-me a face.
Entrei na ponte com um passeio estreito dos dois lados. Carros ainda mais apressados ultrapassavam outros carros, desrespeitando a sinalização e as vidas. Sentia o tabuleiro da ponte a tremer debaixo dos meus pés. Evitava olhar para o rio sem corrente, turbo. Sentia-me tremendamente instável. Encorajava-me e ia avançando lentamente, a passo de caracol. O abismo atraía-me, como se tivesse um íman invisível, como se do fundo do rio ouvisse uma voz, um chamamento irresistível. Olhava em frente para o casario de Rossio-ao-Sul-do-Tejo. A meio da ponte, parei e encostei-me ao gradeamento de protecção e fiquei a olhar para o rio, como uma presa olha para a cobra antes de ser ingerida. A água encontrava-se extremamente turba. Não se avistava o fundo. A duzentos metros dali, um areeiro preparava-se para começar a varrer as migalhas do rio. Sentia-me cada vez mais atraído pelo abismo. Dentro de mim, algo começava a ceder, a deixar-se ir indo. Encostei-me à grade de protecção. Tremi ao sentir o metal frio a encostar-se ao meu corpo. Parecia que não tinha vontade, que alguém decidia por mim. A superfície da água ia subindo, subindo, ao meu encontro, quando uma mão quente tocou no meu braço. Era uma mão de mulher. Era um cheiro de mulher. E uma voz perto do meu ouvido esquerdo
(o caminho não é por aí).
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Ipsis Verbis
domingo, 29 de novembro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
(eu não tenho nada para vos oferecer).
Repensei o meu sussurro e emendei-o
(a não ser a minha companhia, a minha amizade, o meu tempo).
Um dos pombos, ou seria uma pomba?, agitou as asas, deu um impulso ao seu frágil corpo e pulou para o meu pé direito, que se encontrava cruzado sobre o esquerdo. E ficámos algum tempo a admirar-nos, a travar amizade, até que a minha mais recente amiga resolveu partir.
[Os amigos partem. Mas a amizade fica.]
sábado, 28 de novembro de 2009
Eis os portugueses
Baptista Bastos, Um Homem Parado no Inverno
domingo, 22 de novembro de 2009
Santa Maria de Bouro
sábado, 21 de novembro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
12. Poema
O vidro da janela separava o meu quarto de um pequeno terraço, no primeiro andar, de onde se avistava o Tejo domesticado, a planície ribatejana, as duas pontes, a rodoviária e a ferroviária, os amontoados de luzes e o luar de Agosto.
Deitei-me na cama e retomei a leitura de Um Embuste Perfeito, de Italo Svevo. Apaguei todas as luzes do quarto (é curiosa a quantidade de luzes que existem num local onde se dorme, onde são menos precisas!), deixando um fiozinho de luz do candeeiro para que o calor não fosse insuportável.
Quando me preparava para registar uma frase do livro, uma voz feminina, muito convicta, defrontava uma voz masculina, convicta. Discutiam se a rua S era a segunda ou a terceira a partir da praça R, em direcção ao rio, de uma cidade-capital. Como nenhum deles conseguia convencer o outro, resolveram telefonar a uma pessoa distante, que não deu a razão a nenhum dos dois. Segundo ela, a rua S não era a segunda nem a terceira, mas a primeira rua que iniciava na praça R, em direcção ao rio. Telefonaram a outras vozes distantes. Todas davam a razão a um dos dois. Nunca a um deles.
O casal não parava o confronto. O tom das vozes aumentava cada vez mais. Quando começavam a ser insuportáveis, o confronto e as vozes, resolvi intervir, interrompendo a leitura na página 48. Rasguei uma folha de um caderno de notas com um poema, que escrevera durante o almoço, num restaurante apinhado de diárias. Corri a cortina verde. Abri a janela. Eles suspenderam a contenda para olharem para mim, que acabava de abrir a janela, que esticava o braço, que lhes oferecia o poema.
domingo, 15 de novembro de 2009
Em memória do Lucas
Estávamos tão ocupados a gostar um do outro
que não equacionámos a hipótese de um de nós partir sem se despedir.
Ontem, tu partiste, cedo, demasiado cedo,
como partem todos aqueles que são amados.
Afinal todas as vezes
que te aproximavas para eu te beijar,
que te encostavas ao meu corpo para te acariciar,
que ficavas sentado à espera, para me ofereceres a tua companhia, a tua protecção,
que ficavas em silêncio a compreender-me,
afinal dizíamo-nos adeus.
Se houvesse dignidade na morte, tu merecê-la-ias.
(Ninguém merece morrer atropelado,
atirado para o escuro de uma mina.
Do ser humano, já nada me surpreende.)
Uma morte digna continua a ser morte.
Morte é morte,
ponto final parágrafo.
Deixámo-nos.
Tu já não tens memória.
Essa ficou toda para mim.
O que hei-de fazer com todos os pedacinhos da tua alma
que eu guardo nas profundezas?
O que hei-de fazer quando chamar
Lucas, Lucas
e tu não apareceres?
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Ir a Abrantes e não visitar, gratuitamente, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, instalado no convento de S. Domingos, uma edificação do início do século XVI, onde se encontra sepultado, entre outras figuras da nossa História, o Infante D. Fernando, filho de D. Manuel, é como ir a Roma e não ver o Papa.
A manhã ia a meio quando comecei a visita. O meu corpo absorveu imediatamente a frescura proporcionada pelas grossas paredes do pequeno templo. Dei quatro passos e parei sem querer. Os meus sentidos encontravam-se, inexplicavelmente, anestesiados. Percorri, indiferente a tudo, as várias colecções, peça a peça, devagar, tão devagar que esqueci o almoço. O meu estômago solidarizara-se com a minha curiosidade desmedida, a minha necessidade de não ser como era. Recuei no tempo. Entrei no Neolítico e no Calcolítico, nas Idades do Bronze e do Ferro, no Antigo Egipto, na Grécia Antiga (a actual continua a arder), no Mundo Romano, na Arte Chinesa, no Paleo-Cristão, Islão e Idade Média Cristã, no final da Idade Média, no Renascimento, no Barroco. Subi as estreitas e sinuosas escadas de acesso ao coro onde havia trabalhos de dois artistas contemporâneos: Maria Lucília Moita (“Os carvalhos rasgados não são coisas mortas/Ficaram no caminho do vento”) e as “Cidades imaginárias” de João Charters de Almeida. Quanto tempo fiquei diante da tela “Os olhos de ânsia”?Ir a Abrantes e não visitar, gratuitamente, gratuitamente, gratuitamente, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte é como ir a Roma e não ver o Papa. Eu já fui ao Vaticano e não vi o Papa.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Ipsis Verbis
domingo, 8 de novembro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Apetece demorar, ficar, esquecer o tempo dos relógios, os dias cheios de nada, esquecer-se, perder-se, reencontrar-se.
Do terraço da torre de menagem, com o Tejo ao fundo do olhar, a serpentear os montes, a descer o vale que ele próprio escavou, a correr lentamente para os braços do seu deus; com o casario da cidade antiga, as suas ruas estreitas a desembocarem noutras ruas estreitas onde os carros, intrusos do tempo, não poluíam, ou em pequenas e desniveladas praças onde corpos pachorrentos matavam a sede e a solidão de Agosto.
Desci da torre de menagem. Percorri todo o perímetro amuralhado, indiferente ao calor da tarde. Sentei-me à sombra de um carvalho, encostado ao tronco rugoso. Demorei, fiquei, esqueci-me do tempo dos relógios, esqueci-me de mim, perdi-me, sonhei, imaginei-me. Quando estava prestes a reencontrar-me, uma voz
(lamento incomodá-lo, senhor, mas está na hora de encerrar o castelo).
sábado, 31 de outubro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Subi as escadas de acesso à recepção da pousada da juventude. Sentia as pernas cansadas. Percorrera, alheado do relógio, da noite, da brisa que anunciava a antemanhã, as ruas estreitas, íngremes, desertas, do centro da cidade.
É antigo, talvez tenha a mesma idade que a do meu cartão de cidadão, talvez seja meu irmão gémeo, o meu deslumbramento, a minha dilecção, percorrer, durante a noite, as ruas das cidades, quando as portas estão trancadas, quando o silêncio é só silêncio, quando a solidão esventra, a imaginar histórias cujas personagens dormem do outro lado das paredes com janelas fechadas.
Abri a porta da recepção. Cumprimentei e acordei a recepcionista. Ela retribuiu-me o cumprimento que quebrou o silêncio do corredor de acesso aos quartos. Abri a porta lentamente e entrei, deixando um rasto de silêncio, só silêncio.
E sentir-lhe um paladar.
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro
Post scriptum: Em jeito de agradecimento.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Baptista Bastos ou o Narrador de "Um Homem Parado no Inverno"
Baptista Bastos, Um Homem Parado no Inverno
sábado, 24 de outubro de 2009
Etienne Daho - Saudade
J'ai un rendez-vous dans l'air
Inattendu et clair
Déjà je pars à ta découverte
Ville bonne et offerte
C'est l'attrait du danger
Qui me mène à ce lieu
C'est d'instinct
Qu'tu me cherches et approches
Je sens que c'est toi
C'est à l'aube que se ferment
Tes prunelles marina
Sous quel meridien se caresser
Dans mes bras te cacher
Dans ces ruelles fantômes
Ou sur cette terrasse
Où s'écrase un soleil
Tu m'enseignes
Le langage des yeux
Je reste sans voix
Les nuits au loin tu cherches l'ombre
Comment ris-tu avec les autres
Parfois aussi je m'abandonne
Mais au matin les dauphins se meurent
De saudade...
Où mène ce tourbillon
Cette valse d'avions
Aller au bout de toi et de moi
Vaincre la peur du vide
Les ruptures d'équilibre
Si tes larmes se mèlent
Aux pluies de novembre
Et que je dois en périr
Je sombrerai avec joie
De saudade...
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Deveria ser obrigatório, uma obrigação moral, todos os portugueses viajarem nesta linha, entre as estações de Entroncamento e Vila Velha de Ródão, pelo menos uma vez na vida.
Mal avistei o rio Tejo, saltei do conforto do meu banco e o ar condicionado da carruagem e corri para a porta de saída, onde poderia desfrutar de um ponto de observação privilegiado sobre o rio amansado e sobre a margem esquerda. Mantive-me em pé, indiferente ao calor, ao barulho, ao entra-e-sai da casa de banho, à minha segurança, deslumbrado, um deslumbramento de criança, a absorver todos os quadros naturais, fugidios. Apeteceu-me tomar, pela força, a cabine do maquinista e obrigá-lo a parar quando me apetecesse, que me deixasse, durante dois ou três minutos, a saborear a paisagem, o Tejo domado, o Tejo selvagem, a fauna assustada, a corrente a entrar-me através do olhar de criança extasiada. Que pena o comboio não ter avariado!
domingo, 18 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Instantes de Um Peregrino Sem Fé
Uma aragem fresca refrescara a noite e o meu corpo que saltitara de rua em rua. Parei à entrada do pequeno bar. Espreitei para o interior através da porta de vidro. Entrei porque estava vazio de clientes. Com todas as mesas à minha disposição, fiquei indeciso, sem saber onde sentar-me. A empregada, uma mulher morena, com o cabelo muito comprido e um sorriso atractivo, divertia-se, atrás do balcão, com a minha indecisão. Ao fim de três senta-não-senta, ocupei a mesa mais próxima do balcão.
(Boa noite, Sr. Indeciso! O que deseja tomar?)
(Não sei muito bem o que me apetece, Sra. perspicaz. Preciso de mais algum tempo…)
(O bar encerra às duas horas.)
Sorriu-me e afastou-se. Entrou num pequeno compartimento para pôr um dos “Café d’el Mar”.
Regressou ao balcão. Levantei-me e aproximei-me dela.
(Então, já decidiu, Sr. Indeciso?)
(Já. Apetecia-me um copo de companhia com amizade.)
(Companhia posso servir-lhe… Mas amizade não. A não ser que queira trocar a amizade por compreensão. Olhe, que sabe muito bem, um copo de companhia com compreensão!)
Aceitei. Há muito tempo que aprendi a viver sem tudo.