13. Amizade
Percorri os caminhos labirínticos do jardim. Havia muitos bancos vazios. Saltitei de banco em banco. Havia sempre um motivozinho para escolher outro banco. Por fim, sentei-me num banco, de frente para a Biblioteca Municipal. Perto de mim, três adolescentes comportavam-se como crianças. Um pouco mais afastados, dois idosos comportavam-se como mortos. Ocupei-me a observar um grupo de pombos que, aos poucos, começaram a aproximar-se de mim. Sussurrei-lhes
(eu não tenho nada para vos oferecer).
Repensei o meu sussurro e emendei-o
(a não ser a minha companhia, a minha amizade, o meu tempo).
Um dos pombos, ou seria uma pomba?, agitou as asas, deu um impulso ao seu frágil corpo e pulou para o meu pé direito, que se encontrava cruzado sobre o esquerdo. E ficámos algum tempo a admirar-nos, a travar amizade, até que a minha mais recente amiga resolveu partir.
[Os amigos partem. Mas a amizade fica.]
(eu não tenho nada para vos oferecer).
Repensei o meu sussurro e emendei-o
(a não ser a minha companhia, a minha amizade, o meu tempo).
Um dos pombos, ou seria uma pomba?, agitou as asas, deu um impulso ao seu frágil corpo e pulou para o meu pé direito, que se encontrava cruzado sobre o esquerdo. E ficámos algum tempo a admirar-nos, a travar amizade, até que a minha mais recente amiga resolveu partir.
[Os amigos partem. Mas a amizade fica.]
...e uma ave sabendo bem qual é o pé que não a pisa, escolhe-o para poisar...
ResponderEliminarM.Barbeitos
Ausência
ResponderEliminarNum deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner