« (…) os portugueses vivem num crisol de inveja, despeito e ódio; absurdos e anacrónicos desencontram-se com a História e a História não esperou por eles; a repressão ideológica, a perseguição à ciência, o obscurantismo cultural, durante séculos e geraram um povo que possui a volúpia do mesquinho na mesquinhez; resignados e infelizes não perdoam, e fecundam uma inferioridade que os incita à indiferença ou ao rancor; é um povo herdeiro do mal, basta ler o João de Barros das Décadas ou os relatos trágico-marítimos; assassina por uma partilha duvidosa de bens ou por um regueiro de água que, no seu entender, foi-lhe abusivamente desviado; emigra e faz um leito de nações, porém é incapaz de promover o seu destino colectivo; não representa: enuncia; não realiza: deseja; a decisão mais judiciosa que deveria tomar era desaparecer, fundir-se na angústia para procurar conhecer-se; tudo lhe é inalcançável, tudo lhe está distante e turvo; de longe em longe experimenta uma sensação de euforia, passageira, porem; logo se dilui na inveja, logo se veste de uma odiosa melancolia (…)»
Baptista Bastos, Um Homem Parado no Inverno
Baptista Bastos, Um Homem Parado no Inverno
Sem comentários:
Enviar um comentário