domingo, 8 de novembro de 2009

Instantes de Um Peregrino Sem Fé











10. Castelo de Abrantes

Apetece demorar, ficar, esquecer o tempo dos relógios, os dias cheios de nada, esquecer-se, perder-se, reencontrar-se.
Do terraço da torre de menagem, com o Tejo ao fundo do olhar, a serpentear os montes, a descer o vale que ele próprio escavou, a correr lentamente para os braços do seu deus; com o casario da cidade antiga, as suas ruas estreitas a desembocarem noutras ruas estreitas onde os carros, intrusos do tempo, não poluíam, ou em pequenas e desniveladas praças onde corpos pachorrentos matavam a sede e a solidão de Agosto.
Desci da torre de menagem. Percorri todo o perímetro amuralhado, indiferente ao calor da tarde. Sentei-me à sombra de um carvalho, encostado ao tronco rugoso. Demorei, fiquei, esqueci-me do tempo dos relógios, esqueci-me de mim, perdi-me, sonhei, imaginei-me. Quando estava prestes a reencontrar-me, uma voz
(lamento incomodá-lo, senhor, mas está na hora de encerrar o castelo).

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