15. Fim de linha
Desci do comboio na estação de Santa Apolónia. Não tinha ninguém à minha espera. Desencontrei-me com o amigo que deveria esperar-me. Mais um desencontro. De quantos desencontros são feitas as vidas?
Telefonei-lhe. Prometeu-me que demoraria 15m a chegar. Eu previ 40m. Aproveitei o tempo para vaguear pela estação. Os dias e, sobretudo, as noites ensinaram-me a esperar. Nem sempre é fácil saber esperar. Andei de um lado para o outro, entretido a assistir ao reencontro e à despedida de pessoas. Abri a porta do cofre, com código, onde guardo os sentidos. Soltei-os pela estação, indiferente à espera. Era constante o vaivém de máquinas, de pessoas, de malas, de avisos sonoros.
Desci do comboio na estação de Santa Apolónia. Não tinha ninguém à minha espera. Desencontrei-me com o amigo que deveria esperar-me. Mais um desencontro. De quantos desencontros são feitas as vidas?
Telefonei-lhe. Prometeu-me que demoraria 15m a chegar. Eu previ 40m. Aproveitei o tempo para vaguear pela estação. Os dias e, sobretudo, as noites ensinaram-me a esperar. Nem sempre é fácil saber esperar. Andei de um lado para o outro, entretido a assistir ao reencontro e à despedida de pessoas. Abri a porta do cofre, com código, onde guardo os sentidos. Soltei-os pela estação, indiferente à espera. Era constante o vaivém de máquinas, de pessoas, de malas, de avisos sonoros.
Aproveitei a partida de um comboio com destino ao Norte para abandonar o cais. Sentei-me no chão, no exterior da estação. A poucos metros de mim, um grupo de homens despejava, sem ter sede, garrafas de cerveja e de vinho. Todos eles tinham em comum o que não tinham: amanhã. Só tinham ontem. Hoje bebiam o mais que podiam comprar. Eram jovens com corpos estragados, indiferentes ao esforço dos carregadores de malas, que eram velhos com corpos estafados, a puxarem carros cheios de pesadas malas. Na face transportavam o peso do sofrimento.
Quando um dos carregadores de malas, a mancar, se preparava para passar mesmo ao meu lado, levantei-me e ofereci-me para lhe puxar o carro. Ele parou para me olhar nos olhos. Atrás do carro a abarrotar de malas, uma voz de cliente ordenou-lhe
(vamos, não pare que estou com pressa).
(vamos, não pare que estou com pressa).
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