24. Bom apetite (Continuação)
Almocei mais depressa do que era meu hábito. Aprendi com o meu avô a comer devagar
(para não incomodar o estômago),
justificava-se/justifico-me.
Não pedi sobremesa para terminar a refeição ao mesmo tempo do que ela. Levantou-se, dirigiu-se ao balão e pediu à empregada a conta. Pagou e saiu. Eu fiz o mesmo. Saímos do restaurante vegetariano no mesmo minuto. Ela com o seu saco de pano ao ombro e eu com a mochila às costas.
Virou à esquerda e desceu a rua. Seguia-a a poucos metros de distância, sem reflectir, deixando-me levar pela obsessão. Sentia uma espécie de embriaguez sentimental.
Atravessou uma rua onde os carros dispunham de três faixas de rodagem e dirigiu-se para Sul. Cerca de trezentos metros à frente, parou e olhou para trás, para mim. Ao aperceber-me de que ela me esperava com o olhar, parei e fique estatuado a encará-la. Desta vez não retirei os olhos dos dela. As pessoas passavam sem reparar em nós. Sorriu-me com um sorriso triste. Quando, finalmente, reuni a coragem suficiente para ir ao seu encontro, ela prosseguiu o seu rumo, entrando numa rua estreita e sombria. Eu fiquei sem saber o que fazer. Decidi seguir em frente até ao início da rua onde ela tinha entrado. Apercebi-me de que havia bastante movimento nessa rua. Procurei-a com o olhar. Ela desaparecera. Fiquei a ler uma placa que informava todos os transeuntes de que não era aconselhada a permanência de menores de dezoito anos, naquela rua, devido aos inúmeros estabelecimentos ligados ao erotismo e, sobretudo, ao sexo.
O meu desnorte foi interrompido pela voz de um homem a perguntar-me as horas. Eu respondi-lhe e ele não me agradeceu. Voltei a ver as horas. Faltavam quarenta minutos para o comboio partir e a estação ficava ao fundo daquela longa avenida.
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