«Vamos, poema de amor, levanta-te do meio de vidros partidos, porque chegou a hora de cantar.
Ajuda-me, poema de amor, a restabelecer a integridade, a cantar sobre a dor.
É verdade que o mundo não se limpa de guerras, não se lava de sangue, não se corrige do ódio. É verdade.
Mas é igualmente verdade que nos abeiramos de uma evidência: os violentos reflectem-se no espelho do mundo e o seu rosto não é belo, nem para eles mesmos.
Continuo a crer na possibilidade do amor. Tenho a certeza do entendimento entre os seres humanos, conseguido sobre as dores, sobre o sangue e sobre os vidros partidos.»
Pablo Neruda, Confesso que vivi
quinta-feira, 29 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
Mel
Abelha enganada procura flor com alma
Corrente cansada desce o vale
Adolescente apalpa o desconhecido
Homem desencontrado consome o passado
Criança devora o mel da abelha enganada.
Não me deixes morrer à distância.
Corrente cansada desce o vale
Adolescente apalpa o desconhecido
Homem desencontrado consome o passado
Criança devora o mel da abelha enganada.
Não me deixes morrer à distância.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Traz-me
Traz-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traz-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traz-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traz-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traz-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!
Cecília Meireles
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